sexta-feira, 30 de março de 2012

BORBOLETA

Rastejo-me. Sinto-me perdida.
Trilhando caminhos estranhos.
E perigosos.
Não avisto o horizonte.

Algo me mobiliza.
Algo que me é estranho.
Não o conheço.
Mas vem tomando espaço dentro de mim.

Sinto-me muito incomodada.
Este desconhecido está crescendo.
Não consigo controlar.
Sou levada a olhar para dentro, preciso me fechar.

Está escuro, sinto medo.
Estou confusa, apreensiva.
Choro.
Mas preciso ficar ali, preciso enfrentar.

O cansaço vem e com ele o sono.
Entrego-me aos poucos, docemente.
Sinto tranquilidade.
O medo, a apreensão, a confusão perdem espaço.

Desperto. Algo aconteceu.
Não sei quanto tempo se passou.
Estou diferente.
Ainda estou dentro, mas agora algo me mobiliza para sair.

Preciso me libertar. Quero sair.
Aos poucos me movimento.
Tenho nova força.
Arrebento as paredes que me cercam e vejo uma luz.

Olho para mim. Eu mudei.
Aos poucos vou me redescobrindo.
Tenho assas.
Sinto-me leve. O horizonte não está mais tão distante.

Arrisco-me. Ainda é difícil.
Devo reconhecer e entender este novo momento.
Mas não desisto.
E ganho o mundo. Com novas cores, novas formas, nova e bela criatura.

Edlaine Paseto Vitorassi .

segunda-feira, 26 de março de 2012

ALIMENTANDO MONSTROS

Ah! A infância! Época de sonhos, descobertas, aprendizado, brincadeiras e... violência. Isto mesmo: a maioria de nós sofreu diferentes tipos de violência quando criança, agressões físicas e/ou psicológicas que deixaram marcas em nosso ser e que perpetuam por toda nossa vida. Você já se deu conta disso?

A verdade é que criança aprende com o que vê, com o que vivencia e reproduz isto. Então quando adulta, também vai reproduzir o que foi feito com ela, principalmente quando não toma consciência disto, perpetuando um ciclo de violência. Ouço muitas pessoas dizendo que apanharam dos pais, foram agredidas verbalmente e que isto as tornaram pessoas melhores. Não concordo. O que se aprende com violência é que não se pode errar, que não pode falar o que se pensa e que não pode sentir o que se sente. E isto acaba trazendo sérias consequências para a vida adulta, pois desaprendemos a reconhecer nossos sentimentos e vontades e passamos a ter medo de errar (o que sabemos faz parte do aprendizado) deixando muitas vezes de tentar.

Quem bate, quem grita, insulta mostra sua insegurança, pois precisa destes artifícios para provar que tem o poder, para poder controlar. O que precisa mesmo é de ajuda, é se conscientizar que não precisa fazer com seus filhos o que fizeram consigo, mas entrar em contato com a raiva, a angústia, o ressentimento, o medo e muitas vezes a culpa que sentia quando era agredido e que agora quer descontar em seu filho.

Crianças precisam de limites sim, e para isto existe o diálogo e o tempo de atenção que todo pai e mãe devem dar ao seu filho. Se não tiver atenção, ele irá buscá-la pelos mais diversos caminhos, seja “aprontando” na escola ou adoecendo. Seus filhos irão errar, pois não nasceram sabendo, estão sendo construídos a cada dia e precisam de você para se desenvolver de forma saudável, seja através de momentos de alegria, brincadeira, carinho, limites ou frustrações. Precisam de sua presença e isto requer paciência. Se você não tem paciência e se irrita com facilidade, então procure ajuda, não desconte em quem depende de você para sobreviver. Reconheça suas dores para que elas não se transformem na dor de seus filhos, mesmo que você ainda não os tenha.

Podemos quebrar este ciclo de violência ao invés de perpetuá-lo. Vamos começar por nós mesmos, para que não seja necessário criar leis a fim de evitar estes tipos de crueldades.  Vamos deixar para a humanidade pessoas melhores. Os monstros só existirão se nós os alimentarmos.

domingo, 25 de março de 2012

CHORO ANTIGO

Pequeno humano, criatura em construção
Quão dolorida foi tua evolução?
As dores mal resolvidas ou não acolhidas
Deixaram em tua alma cicatrizes que aí estão.



E estas cicatrizes, pequenos cristais
Que endureceram e retiveram sentimentos tais
Pesam tua alma, camuflam tua calma
Que em teu peito, inflado e pequeno, não cabe mais.



Esvazia-te! Teu corpo suplica conhecendo o perigo
E quando lágrimas encontram acolhida em ouvido amigo
Cristais se quebram e o lugar para o inesperado surge
Abraçando e transformando em novo, o choro antigo.



Edlaine Paseto Vitorassi – 20/03/2012.