terça-feira, 10 de julho de 2012

TERAPIA E SEGREDOS


Já se pensou em vários pontos que diferem o ser humano dos outros animais. Capacidade de raciocinar, de refletir sobre seus atos, de lembrar-se do passado e planejar o futuro...  o que me vem à mente neste momento para incrementar esta lista (entre outras coisas) é o fato de que os outros animais não possuem segredos. Isto mesmo, o ser humano é dado a segredos: fatos, pensamentos, sentimentos, atitudes que não revela e/ou admite a ninguém, muitas vezes nem a ele mesmo.
Estes “segredos” podem significar uma forma de poder, pois se ninguém souber deles estarei protegido, não poderão me atingir. Mas posso acabar pagando um preço muito alto com isso, ele pode me sufocar, pesar em mim, posso ter que despender muita energia para mantê-lo, escondê-lo. Posso adoecer por conta disso.
Que segredos são estes? Fraquezas, medos, angústias, sentimentos, vivências passadas, desejos...? Por que não posso senti-los, vivê-los? Será mesmo que estou me protegendo ou estou criando uma clausura sem fim para mim mesmo?
Meu segredo, aliás, pode não ser segredo pra ninguém. Isso mesmo! Às vezes guardamos a sete chaves algo que as outras pessoas também possuem, mas também guardam em segredo. Acredito que durante toda a história da humanidade o ser humano possuiu segredos que são os mesmos que os nossos hoje. Portanto, herdamos em segredo os segredos de nossos ancestrais. Confuso? Pode ser, mas é uma realidade...
Quando revelamos alguns de nossos segredos, principalmente em terapia, descobrimos que eles não são tão grandes assim, nem tão terríveis quanto imaginamos. Dar um lugar, dar voz a eles nos faz entender que estes nos enfraqueciam ao invés de nos dar poder. O que nos dá poder é a possibilidade de fazer escolhas, de sentir o que devemos e queremos sentir. De sermos nós mesmos. Você sabe quem você é ou isto é segredo? Sempre é tempo de revelações... e isto nos transforma!

Edlaine Paseto Vitorassi – 08/07/12.


sexta-feira, 15 de junho de 2012

TEMPESTADE

Uma gota e basta.
A tempestade vem com toda sua fúria
Arrancando estabilidades, devastando tranquilidades.

Olhar chuvoso, trovões berrantes, ventania sem ar...
Não há controle, apenas o fluir da natureza.
Esta, que não quer mais se deixar controlar.

Depois, lágrimas finas caem, penetrando no terreno.
Marcas ficaram de destruição, mas há sobrevivência.
A natureza enfrenta a natureza e a ela não sucumbe.
Renascimento. Novos sentidos são vindouros.
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Edlaine Paseto Vitorassi - 06/2012

quinta-feira, 31 de maio de 2012

VIAJANTE

É hora de partir.
Um destino me espera.
Planejado ou não, tenho um caminho a seguir.

Sou levada pelas cores e formas
E pensamentos indomáveis viajam por aqui e ali.
O caminho se apresenta e me permite simplesmente ser.

Não sei o que me reserva o caminho
Mas gosto dele fazer parte e estar.
O caminho me transforma, me cura, me faz companhia.

Chego enfim no destino escolhido
Ou no qual o caminho me levou.
Já não sou a mesma da partida.
Em busca de novos caminhos, para sempre vou.

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Edlaine Paseto Vitorassi
21/05/2012.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

À ESPERA DO INESPERADO


Encontro novo
Com antiga situação.
Devo me deparar com uma inesperada emoção?


Angústia já presente
Anunciando o que não se pode evitar.
O corpo tenciona... aprendeu ele que não pode falar?


Que o inesperado venha!
E com ele a transformação de antigos padrões.
E que o momento presente seja vivido,
Criando e acalentando novas feições.


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Edlaine Paseto Vitorassi
26/04/2012.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

O SENTIDO DA VIDA...

Dias atrás recebi um questionário solicitado por um professor de uma universidade aos alunos para entrevistar alguém como trabalho de sua disciplina.  Uma das questões era bem pertinente e diria até difícil de responder. Divido aqui a pergunta referida e a minha resposta:

Qual o sentido da vida para você?
Em primeiro lugar, gostaria de pontuar uma coisa: acredito que o sentido da vida para uma pessoa perpassa por diferentes fatores, ou seja, ao ser questionada sobre isto devo levar em consideração meu humor no momento, o contexto em que me encontro, a situação pela qual estou passando... Enfim, tudo isto conta, pois se estou passando por um momento de tristeza, de luto, pode ser que a vida não tenha sentido (ou que o sentido seja de dor, vazio...). Se estiver com alguém que gosto, a vida pode significar o compartilhamento daquele momento. Se estiver com amigos que são divertidos, que gostam de aventura posso significar a vida como intensidade. Portanto, deixando de lado as divagações, poderia dizer que neste momento atual, o sentido da vida em minha percepção poderia ser traduzido em transformações, em dialética, em construções. Ou ainda, para facilitar, hoje o sentido da vida para mim se resumiria em uma palavra: mudança. A vida só é vida, só existe, só se movimenta através da mudança.  Quem não sofre mudanças, não evolui, não vive, a não ser biologicamente.  Então, se me fizerem esta pergunta daqui a cinco anos (ou cinco minutos) posso não mais responder da mesma forma, pois minha resposta pode “mudar de sentido”.

Edlaine Paseto Vitorassi

quarta-feira, 4 de abril de 2012

A ARTE DE TOCAR PESSOAS...

Tocar,
Com as mãos carinhosas em um ombro triste
Tocar,
Com olhos atentos em uma voz embargada
Tocar,
Com ouvidos presentes diante de lágrimas
Tocar,
Com o silêncio acolhedor as palavras não ditas
Tocar,
Com a presença não imposta, mas companheira
Tocar,
Com uma palavra que relata toda uma história
Tocar,
Na simples permissão de ser o que se é
Tocar...
Quando se é permitido tocar.


Edlaine Paseto Vitorassi

sexta-feira, 30 de março de 2012

BORBOLETA

Rastejo-me. Sinto-me perdida.
Trilhando caminhos estranhos.
E perigosos.
Não avisto o horizonte.

Algo me mobiliza.
Algo que me é estranho.
Não o conheço.
Mas vem tomando espaço dentro de mim.

Sinto-me muito incomodada.
Este desconhecido está crescendo.
Não consigo controlar.
Sou levada a olhar para dentro, preciso me fechar.

Está escuro, sinto medo.
Estou confusa, apreensiva.
Choro.
Mas preciso ficar ali, preciso enfrentar.

O cansaço vem e com ele o sono.
Entrego-me aos poucos, docemente.
Sinto tranquilidade.
O medo, a apreensão, a confusão perdem espaço.

Desperto. Algo aconteceu.
Não sei quanto tempo se passou.
Estou diferente.
Ainda estou dentro, mas agora algo me mobiliza para sair.

Preciso me libertar. Quero sair.
Aos poucos me movimento.
Tenho nova força.
Arrebento as paredes que me cercam e vejo uma luz.

Olho para mim. Eu mudei.
Aos poucos vou me redescobrindo.
Tenho assas.
Sinto-me leve. O horizonte não está mais tão distante.

Arrisco-me. Ainda é difícil.
Devo reconhecer e entender este novo momento.
Mas não desisto.
E ganho o mundo. Com novas cores, novas formas, nova e bela criatura.

Edlaine Paseto Vitorassi .

segunda-feira, 26 de março de 2012

ALIMENTANDO MONSTROS

Ah! A infância! Época de sonhos, descobertas, aprendizado, brincadeiras e... violência. Isto mesmo: a maioria de nós sofreu diferentes tipos de violência quando criança, agressões físicas e/ou psicológicas que deixaram marcas em nosso ser e que perpetuam por toda nossa vida. Você já se deu conta disso?

A verdade é que criança aprende com o que vê, com o que vivencia e reproduz isto. Então quando adulta, também vai reproduzir o que foi feito com ela, principalmente quando não toma consciência disto, perpetuando um ciclo de violência. Ouço muitas pessoas dizendo que apanharam dos pais, foram agredidas verbalmente e que isto as tornaram pessoas melhores. Não concordo. O que se aprende com violência é que não se pode errar, que não pode falar o que se pensa e que não pode sentir o que se sente. E isto acaba trazendo sérias consequências para a vida adulta, pois desaprendemos a reconhecer nossos sentimentos e vontades e passamos a ter medo de errar (o que sabemos faz parte do aprendizado) deixando muitas vezes de tentar.

Quem bate, quem grita, insulta mostra sua insegurança, pois precisa destes artifícios para provar que tem o poder, para poder controlar. O que precisa mesmo é de ajuda, é se conscientizar que não precisa fazer com seus filhos o que fizeram consigo, mas entrar em contato com a raiva, a angústia, o ressentimento, o medo e muitas vezes a culpa que sentia quando era agredido e que agora quer descontar em seu filho.

Crianças precisam de limites sim, e para isto existe o diálogo e o tempo de atenção que todo pai e mãe devem dar ao seu filho. Se não tiver atenção, ele irá buscá-la pelos mais diversos caminhos, seja “aprontando” na escola ou adoecendo. Seus filhos irão errar, pois não nasceram sabendo, estão sendo construídos a cada dia e precisam de você para se desenvolver de forma saudável, seja através de momentos de alegria, brincadeira, carinho, limites ou frustrações. Precisam de sua presença e isto requer paciência. Se você não tem paciência e se irrita com facilidade, então procure ajuda, não desconte em quem depende de você para sobreviver. Reconheça suas dores para que elas não se transformem na dor de seus filhos, mesmo que você ainda não os tenha.

Podemos quebrar este ciclo de violência ao invés de perpetuá-lo. Vamos começar por nós mesmos, para que não seja necessário criar leis a fim de evitar estes tipos de crueldades.  Vamos deixar para a humanidade pessoas melhores. Os monstros só existirão se nós os alimentarmos.

domingo, 25 de março de 2012

CHORO ANTIGO

Pequeno humano, criatura em construção
Quão dolorida foi tua evolução?
As dores mal resolvidas ou não acolhidas
Deixaram em tua alma cicatrizes que aí estão.



E estas cicatrizes, pequenos cristais
Que endureceram e retiveram sentimentos tais
Pesam tua alma, camuflam tua calma
Que em teu peito, inflado e pequeno, não cabe mais.



Esvazia-te! Teu corpo suplica conhecendo o perigo
E quando lágrimas encontram acolhida em ouvido amigo
Cristais se quebram e o lugar para o inesperado surge
Abraçando e transformando em novo, o choro antigo.



Edlaine Paseto Vitorassi – 20/03/2012.